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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Whiplash.net & Varg Vikernes: O problema com rótulos

"Todo mundo acredita em um Jornalista"  - Varg Vikernes


Qualquer um concorda que rotulação não é algo agradável (apesar de ser costumeiro o uso). É tentar descaracterizar algum pensamento que poderia muito bem ser válido por antemão, apenas por um rótulo de uma convenção social que alguém impôs há algum tempo. É pensar que se uma pessoa é pobre, ela não pode te ensinar nada. É pensar que se uma pessoa trabalha com política ela é desonesta (cof cof). É pensar que se uma pessoa não acredita no seu Deus, ela é Satanista ou algo assim... Afinal, nós andamos de preto por adorarmos Satã, né? Ao menos é o que a "tia da cantina" me disse uma vez....

Toda vez que eu olho uma matéria sobre o músico do Burzum e escritor, Varg Vikernes, no site da Whiplash eu me deparo com a seguinte headline:
NOTA IMPORTANTE: Esta é uma tradução de texto publicado no site  oficial do Burzum, redigido pelo próprio Varg Vikernes. Varg é um assassino confesso, defensor da supremacia branca e possivelmente um incendiador de igrejas. O texto foi traduzido em sua totalidade, e não expressa a opinião do tradutor, nem do site Whiplash!, nem de nenhum outro senão a do próprio autor, Varg Vikernes.


Exatamente assim. Caixa alta, negrito, tudo e qualquer coisa para chamar atenção. É perceptível que isso é propositalmente feito, pois caso contrário, eles poderiam colocar apenas como colocam em todas as outras matérias envolvendo assunto polêmico de todos os outros músicos, e ficaria algo assim:
O texto foi traduzido em sua totalidade, e não expressa a opinião do tradutor, nem do site Whiplash!, nem de nenhum outro senão a do próprio autor.
 É perceptível a diferença que o discurso original faz quanto à pessoa do Varg, não? Já cria por antecipação a ideia que o Vikernes é um monstro, satanista, assassino e merece apodrecer na cadeia. Bem como transfere isso para a música dele. O melhor exemplo que eu consigo pensar é ilustrado pelo filme "Detroit Rock City". Mostra uma mãe super-conservadora julgando o Kiss pela roupa, maquiagem etc. Só que nesse caso, não é um filme nem uma mãe conservadora... é um grande site, as vezes escritos por jornalistas formados e cometem um erro cabal de deixar algo assim acontecer.

"Todo mundo acredita em um Jornalista", e a versão que aparece nessa headline, em caixa alta, letras em negrito, é a versão de um. Entretanto, não condiz com diversos testemunhos de outros músicos do cenário, que estavam ligados aos casos na época. Você pode perder 10 minutos no site do Burzum lendo os textos do Vikernes sobre o assunto ou então assistindo o pequeno documentário Dunkelheit, que tem inclusive o testemunho de outro músico, Anders "Neddo" Odden, Ex-cadaver.

Por qual motivo, então, eu defendo Varg? Ele não incendiou mesmo as igrejas, ou não matou o Øystein Aarseth, vulgo Euronymous?

Já nos 15 primeiros segundos do documentário, leva a voz do Varg dizendo:
My name is Varg Vikernes and I play in Burzum. The guy I killed, intended to kill me. So i killed him before he managed to kill me. He tried but he failed miserably.
Em tradução livre: Meu nome é Varg Vikernes e eu toco no Burzum. O cara que eu matei pretendia me matar. Então eu matei ele antes dele tentar me matar. Ele tentou mas falhou miseravelmente. 


Só isso, ao meu ver, já seria o suficiente para criar ao menos um questionamento e não julgá-lo por antemão.
Eu não vou citar tudo aqui, basta dizer que Varg nunca admitiu que fosse um assassinato premeditado e sim por legítima defesa. E quanto as igrejas, nunca houve nenhuma evidência nelas, apenas testemunhos dos mesmos caras em 4 diferentes julgamentos. Todos eles eram amigos do Euronymous. Em todos Varg perdeu, bem como, repetitivamente Varg pediu que não colocasse que ele acreditava em "Satã", com o argumento: "Não acredito nem em "Deus" nem em "Satã"", mas ainda assim a Juíza o fez. Ele se considerava Pagão.



Então, voltando à headline original, por qual motivo colocar aquilo? Não há outro além de aprovar a própria ignorância no assunto, ou então querer rotular o cara de assassino/incendiário/supremacista. E jornalismo ao menos deveria evitar isso. Ou não?

Para mim, colocar uma manchete dessas é o mesmo que, numa matéria sobre o Mustaine (cristão renascido?), colocar a seguinte nota:
NOTA IMPORTANTE: Esta é uma tradução de texto publicado no site  XYZ. Dave Mustaine é um ex-alcóoltra, drogado e agora ainda por cima é um Cristão Renascido!  O texto foi traduzido em sua totalidade, e não expressa a opinião do tradutor, nem do site Whiplash!, nem de nenhum outro senão a do próprio autor, Dave Mustaine.

Se você acha que isso é ridículo, então deve entender que a do Varg também é. 
Vamos para um segundo exemplo com o Gaahl, ex-líder do Gorgoroth, que assumiu um tempo atrás sua homossexualidade: 


NOTA IMPORTANTE: Esta é uma tradução de texto publicado no site  XYZ. Kristian Eivind Espedal "Gaahl" é um possível Satanista, envolvido em casos de violência e recentemente resolveu dizer que é Homossexual, pratica a sodomia! O texto foi traduzido em sua totalidade, e não expressa a opinião do tradutor, nem do site Whiplash!, nem de nenhum outro senão a do próprio autor, Kristian Eivind Espedal .

Triste é que eu não vejo esses... pois se eles existissem, ao menos eu não poderia argumentar que falar do Varg dessa maneira é errado. Mas o Vikernes é o bode expiatório até hoje.

Sobre o assunto do incêndio e o assassinato eu não vou me estender mais, meu ponto original era mostrar o problema com rótulos. Você pode ler o assunto - se tiver interesse - no site do Burzum, ou então assistir o documentário no youtube chamado Dunkelheit, colocarei as referências aqui no final da postagem. O assunto também foi abordado no livro do Ian Christe: Heavy Metal - A História Completa. Depois tire suas próprias conclusões. 





Referências: (1)(2)

8 comentários:

  1. concordo de certa forma, mas é muito fácil parecer inocente com uma autobiografia.

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  2. Jornalistas que tem medo de fracassar usam rótulos para dar enfase em suas histórias, sem ler os fatos antes.

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    1. Seu comentário foi ótimo, cara. É exatamente isso que eu acho...

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  3. Okay. Acho que conversar com você naquele dia foi ótimo para rever tudo o que eu já considerava sem ter mais do que uma visão no assunto. Nesse caso foi sobre o Varg, mas sei que posso utilizar essa fórmula em um sem número de situações. Na verdade, devo conhecer mais do que textos ou qualquer outra fonte de informação que apresentem um só ponto de vista, em todos os casos. Seres Humanos formam medíocres opiniões com pouquíssimo embasamento e teimam naquilo até suas mortes. Penso que aprender é e sempre será prazeroso.
    Mas o melhor foi que essa conversa virou post e você notou algo interessante nesses rótulos e expôs.
    Mesmo que seu foco seja, nesse momento, a Educação, balancearia muito um cara com esses ideais no Jornalismo, viu?! Parabéns de novo e sempre.

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  4. Parabéns pelo post, fica claro que nem tudo o que se lê é verdade(isso já é fato à tempos). Quase não encontrei as referências estão "escondidas" ^^.

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  5. Cara simplesmente adorei seu post, você falou de tudo e mais um pouco, eu também concordo sobre sua opinião sobre o julgamento do Varg, eles não tinham provas e quiseram apenas se aproveitar da situação, como dizem: "O ser humano gosta de ver a desgraça dos outros". E foi isso que os jornalistas fizeram, também concordo com sua posição sobre a juíza que apenas usou um prefixo de ela achar que ele era satanista mesmo ele afirmando ser ateu.

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